(SÃO PAULO) – O sonho de muita gente que hoje trabalha duro para pagar suas contas e ainda faz um esforço para poupar parte do dinheiro recebido todos os meses é um dia poder se aposentar e mesmo assim manter um elevado padrão de vida gastando somente o percentual do retorno dos investimentos que supera a inflação. Mas qual seria o ativo que mais gera renda e que, portanto, permitiria a um investidor ter de fazer o menor esforço de poupança possível para chegar na renda passiva almejada e poder ser dar ao luxo de se aposentar mais cedo?
Há quatro grandes classes de ativos geradores de renda bastante populares no Brasil: 1) ações que pagam bons dividendos; 2) imóveis para locação; 3) títulos públicos que distribuem renda todos os semestres; e 4) fundos imobiliários. Para chegar à conclusão sobre qual ativo seria mais adequado, consultei o professor Arthur Vieira de Moraes, que dá aulas na FIA, na Fecap e na Ancord. Moraes defendeu que, antes de tomar uma decisão, o investidor deveria avaliar quanto cada aplicação distribui em renda (quanto mais melhor), qual é a periodicidade dessas distribuições (quanto mais constante melhor), qual é a segurança de que essas distribuições realmente ocorrerão nos prazos esperados (quanto maior melhor) e qual é o tratamento tributário dado pelo governo sobre cada uma dessas distribuições (quanto menos impostos melhor).
Segundo Moraes, com base nesses critérios investir em ações com o objetivo de viver dos dividendos distribuídos seria o pior caminho que um investidor pode tomar considerando essas quatro opções. O primeiro ponto é que os dividendos pagos pelas empresas brasileiros são baixos. Segundo dados da consultoria Economatica, o retorno médio em dividendos e juros sobre o capital próprio das empresas do Ibovespa foi de 3,73% em 2015. Isso quer dizer que se você investir R$ 1.000 em ações do Ibovespa, vai receber R$ 37,30 em dividendos ao longo de um ano. Se investir R$ 1.000.000, receberá R$ 37.300 em proventos ao ano. Já se investir R$ 10.000.000, ganhará R$ 373.000 ao ano. Percebeu que apenas os super ricos vão conseguir viver de renda com dividendos? Entendeu por que essa estratégia pode dar muito certo para multimilionários da Bolsa como Warren Buffett ou Luiz Barsi, mas provavelmente não vai funcionar nunca para mais de 99,9% dos brasileiros? Para piorar, o retorno em dividendos está em queda. Segundo a Economatica, no primeiro semestre de 2016 foi de apenas 1,11%, o pior resultado semestral desde 1995.
Moraes explica que, por lei, as empresas só são obrigadas a distribuir 25% do lucro aos acionistas. Boa parte delas retêm o restante para ficar capitalizadas e evitar tomar empréstimos bancários quando precisarem bancar investimentos, evitando ter de pagar os elevados juros brasileiros. Além disso, não há regras para os prazos de distribuições de dividendos. Na Bovespa há ações que pagam dividendos mensais, trimestrais, semestrais ou anuais. É difícil antecipar as datas das distribuições dos dividendos. Se a empresa tiver prejuízo, pode não pagar nada. Os dividendos até possuem um tratamento tributário favorável porque são isentos de Imposto de Renda, mas os juros sobre o capital próprio – outra forma de uma empresa remunerar os acionistas – são tributados com uma alíquota de IR de 15% ao ano. Considerando tudo isso, fica claro que dividendos são muito menos interessantes do que se apregoa por aí.
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