SÃO PAULO - O FMI (Fundo Monetário Internacional) mostrou preocupação com o risco de novas bolhas imobiliárias em alguns países, incluindo o Brasil. No blog do fundo, o sub-diretor do FMI, Min Zhu, afirmou que há uma negligência em relação à alta dos preços dos imóveis e advertiu para a necessidade de medidas urgentes para evitar uma nova crise imobiliária na economia global, como ocorreu nos Estados Unidos em 2008.
“Os preços de imóveis estão avançando. Mas este é um motivo de alegria? Ou será que estamos vendo o mesmo filme?”, escreveu Zhu. “Lembrem-se de como, após um boom de uma década, os preços das casas começaram a cair em 2006, primeiro nos Estados Unidos, e, em seguida, em outros lugares, contribuindo para a crise financeira de 2008-2009.”
Na visão do executivo, o mercado imobiliário é um setor essencial da economia de um país e tem implicações sistêmicas. Portanto, a aceleração dos preços dos imóveis, acima dos atuais já elevados, é uma das maiores ameaças à estabilidade da economia global. “É preciso precaver-se contra outro boom insustentável.”
O preço dos imóveis subiu em 33 dos 51 países analisados pelo Global House Price Index, estudo usado pelo fundo para monitorar o mercado imobiliário. Nos últimos quatro meses de 2013, em comparação ao mesmo período de 2012, as altas superaram 10% nas Filipinas e em Hong Kong, 9% na Nova Zelândia e 7% no Brasil.
Já em países como Austrália, Bélgica, Canadá, Noruega e Suécia, os preços estão também acima da média histórica em relação aos salários. Na Bélgica, o preço da habitação está 50% acima da média histórica e, no Canadá, a elevação é de 33%.
Medidas a serem tomadas
Para evitar um possível estouro da bolha imobiliária global, Zhu defendeu em seu texto a adoção de medidas como o controle da razão entre o valor de um imóvel (LTV) e o valor do financiamento (DTI) e a imposição de exigências mais rígidas para os bancos sobre financiamento imobiliário. Além disso, o sub-diretor do FMI sugere uma elevação dos juros básicos da economia, o que ajudaria a conter o crédito.
“As ferramentas para conter o boom de habitação ainda estão sendo desenvolvidas. As evidências sobre sua eficiência estão apenas começando a se acumular. Mas isso não deve ser uma desculpa para a inação. Precisamos passar de ‘negligência benigna’ para uma abordagem de ‘todos os itens acima’ quando se trada de escolhas políticas.”
A negligência também é brasileira?
Enquanto economistas como o prêmio Nobel que previu a crise norte-americana, Robert Shiller, têm alertado sobre o risco de existência de uma bolha imobiliária no Brasil, presidentes de entidades do setor imobiliário do País afirmam que tal cenário é meramente especulativo.
De acordo com o presidente da Rede Secovi (Sindicato da Habitação) de Imóveis, Nelson Parisi Júnior, suposições sobre a existência de uma bolha imobiliária no Brasil desencadeiam uma série de análises equivocadas sobre a realidade do mercado imobiliário. “Quem ampara seus argumentos para a bolha brasileira no episódio ocorrido nos Estados Unidos em 2008 demonstra um profundo desconhecimento sobre o mercado imobiliário”, afirma.
Segundo ele, os bancos brasileiros são criteriosos na concessão de crédito e, na média, financiam 65% do valor do imóvel. Já nos EUA e em alguns países da Europa, esse percentual atingia 120%.
A opinião foi compartilhada pelo presidente do Creci-SP, José Augusto Viana Neto. Neto defende que, pelo menos no segmento de imóveis usados, uma “suposta explosão da bolha especulativa” é apenas um fantasma. “Não é que não existam situações em que preços possam estar inflados, mas, na média geral, e até nos exemplos extremos de valorização média apurados, os preços não indicam que o mercado esteja contaminado por movimentos especulativos”, explica.
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